VOCÊ CONHECE A CASA DO RIO VERMELHO?

Estivemos aqui em novembro de 2015, mas vou confiar que você não leu a matéria ou já esqueceu dela. Então vamos mostrar novamente esse espaço muito legal. Da outra vez eu vim com Clebinho, sem Mirian. Agora ela veio, com os amigos Shoji e Solange.
A amizade com a família de ACM era muito forte. Depois a gente fala sobre isso.
Mas essa visita terá um valor muito maior. 
Estaremos sendo guiados por "Jonga", ninguém menos do que um dos netos de Jorge Amado e Zélia Gatai. Também depois a gente fala melhor sobre isso.
Vai nos mostrando tudo. Essa casa foi adquirida pelo casal Jorge e Zélia, quando vieram para Salvador, após a o exílio, seu mandato de Deputado Federal..., para poder voltar a curtir, novamente, a vida baiana. 

Ele nasceu no Sul da Bahia e se transferiu para o Rio, quando jovem, para estudar. De lá ingressou na militância política, na carreira política e alçou voo pelo muindo. Veja isso:

Em 1947, ano do nascimento de João Jorge, primeiro filho do casal, o PCB foi declarado ilegal e seus membros perseguidos e presos. Jorge Amado teve que se exilar com a família na França, onde ficou até 1950, quando foi expulso. Em 1949, morreu no Rio de Janeiro sua filha Lila. Entre 1950 e 1952, viveu em Praga, onde nasceu sua filha Paloma.


De volta ao Brasil, Jorge Amado afastou-se, em 1955, da militância política, sem, no entanto, deixar os quadros do Partido Comunista. Dedicou-se, a partir de então, inteiramente à literatura. Foi eleito, em 6 de abril de 1961, para a cadeira de número 23, da Academia Brasileira de Letras, que tem por patrono José de Alencar e por primeiro ocupante Machado de Assis.http://www.jorgeamado.org.br).

Tudo nessa casa foi feito por algum artista e o casal conviveu com muitos deles. Tudo tem um detalhe. Essa porta não tem um prego sequer. Somente encaixes.
Frestas foram deixadas, para permitir a circulação do vento. Dá pra ver?
A porta foi desenhada por Caribé ou outro artista baiano famoso.
O casal era colecionador de lembranças. Aonde iam no mundo traziam algo 
Essas cadeiras foram desenhadas pelo amigo Oscar Niemeyer.
Jonga nos contou uma boa desse pato. Era aniversário de Jorge e ele o viu numa loja em Portugal. Zélia não deixou trazer. Já tinham muita coisa na bagagem. Mas ela ficou com pena e voltou na loja para comprar, quando o comerciante lhe falou que já havia sido vendido o último. Chateada, ela voltou para o hotel para explicar ao marido  que tentou comprar e não conseguiu. Tudo bem: ele havia voltado escondido na loja, antes dela, e comprado o pato.
Sapo era um bicho muito querido por Jorge Amado. O seu quintal tinha muitos deles. Suas coleções também.
Aqui o quarto do casal.
Figuras são projetadas na cama e paredes, narrando partes das obras de Amado. Nessa hora era lido Tieta do Agreste.
Alem de escritora, Zélia gostava de costurar roupas e fazer bolsas para o seu uso.
Também gostava de fotografar e fazer revelações em preto e branco. Ela fez bonecos de pano com o rosto dos netos. Quando da montagem do museu nessa casa, resolveram fazer bonecos com toda a família.
Jonga está ai no cantinho.
Veja um pouquinho sobre Zélia.
Como dito lá em cima, Jorge Amado foi militante do Partido Comunista. Nesse espaço lembranças dessa fase de sua vida. Mas ele se decepcionou com o essa ideologia, pela forma cruel com que eliminavam aqueles que pensavam diferentes do partido. 
Ai vem outra curiosidade: como uma pessoa de esquerda poderia ser tão amigo de Antônio Carlos Magalhães? A resposta dada por Jonga coincide com o meu pensamento. Pode-se questionar algumas práticas do ex-cacique político, mas é inegável a sua competência e o seu amor pela Bahia. Muitos opositores de ontem têm saudades dele.
Como dizia Ulisses Guimarães: o tempo é o senhor da razão. Há muitos canalhas que apoiaram o golpe de 64 e muitos outros que o combateram.
Uma carta ao "Zé", apresentando a nova máquina de escrever.
Carta da Vó Zélia para os netos...
O amigo Oscar Niemeyer lhe escreve, pedindo o apoio para o movimento em favor das Diretas Já!
Nessa sala parte de suas obras.
"Jorge é o autor mais adaptado do cinema, do teatro e da televisão. Verdadeiros sucessos como Dona Flor e Seus Dois MaridosTenda dos MilagresTieta do AgresteGabriela, Cravo e Canela e Tereza Batista Cansada de Guerra foram criações suas. A obra literária de escolas de samba por todo o País. Seus livros foram traduzidos em 80 países, em 49 idiomas, bem como em braile e em fitas gravadas para cegos."
Obras em diversas línguas.
Agora o melhor espaço da casa: a cozinha.
Apertando uma opção...

A simpática Dadá lhe dá a receita, no telão.
Conhece isso?
Leia você mesmo o nome, vá!
Amado era um grande gozador. Jonga nos conta que uma vez ele recebeu uma delegação de intelectuais de Portugal. Foi no mercado e comprou várias dessa enormes ânforas, bem baratas, mas falou que eram peças preciosas. Riu muito quando viu o grupo retornando para o país de origem  carregando aquelas  tralhas com enorme sacrifício. 
Coisa de artista.
A sua máquina de escrever e a cabeceira onde gostava de escrever, sempre com a camisa pendurada no espaldar da cadeira, segundo o neto.
Calazans Neto é um dos maiores nomes na pintura, aqui na Bahia.
Os trajes de Jorge Amado nada formais.
Uma maquete de Ilhéus, região onde ele nasceu e que inspirou algumas de suas obras.
É incrível como esses dois rodaram pelo mundo. Nesse quarto há projeção das dezenas de voltas deles pelos mais longínquos países como a União Soviética, por várias vezes, Mongólia, China, países do Leste europeu... tudo isso numa época em que poucos brasileiros pisavam tais territórios. Morou na Argentina, Uruguai, Praga, Paris. Foram cidadãos do mundo.

Outra coisa que muito me impressionou. Como o casal era bem relacionado. Personalidades do mundo inteiro passaram pela casa de ambos, nesses lugares onde moraram, no Rio e aqui na Casa do Rio Vermelho. Há fotos dele com o astronauta Yuri Gagarin, Sophia Loren, como cineasta Roman Polanski, Fidel Castro, Pablo Neruda, seu compadre, e muitos outros. 
Esse jardim era o refúgio do casal. Amavam plantas e o sossego desse lugar.
Suas cinzas foram depositadas aqui.
Nesse espaço são projetadas reflexões desses intelectuais sobre a vida e obra de Jorge Amado.
Jonga nos conta que o avô estava certa vez comendo jaca aqui, debaixo do pé quando uma enorme caiu muito perto de ator Jack Nicholson. Imagine as consequências se tivesse acertado aquela cabeça famosa.
Interessante isso. No wikipedia cita que ele como Deputado Federal lutou pelo respeito à diversidade religiosa, contra a perseguição de seguidores de religiões de matriz africana e contra a perseguição de protestantes por parte de católicos no estado do Ceará.
Mirian insistiu para eu tirar uma foto com essa bela baiana. Para agradar a patroa, fiz isso.
Naquela casa nos fundos morava a família de Jonga e Clebinho levanta uma frustração pelas pesquisas sobre a "casa" não estarem completas. Naquela área eles ensaiavam o "CurtiSamba", um grupo de pagode que eles criaram, onde Clebinho era o produtor, e "Jonga", era o baterista.
Tem razão a sua revolta. Se falam e mostram visitando a casa, Tom Jobim, Vinicius, Caetano, Bethânia, Se fala de Jean Paul Sartre, de Simone Beauvoir, e tantos outros, porque não citar os os jovens pagodeiros?


Tenho de admitir que meu filho me dá muitas alegrias, mas já me deu esta tristeza.

Vamos em frente. Uma belíssima visita.


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