BELISÁRIO NA ROTA DE UMA MISSÃO HUMANITÁRIA

No finalzinho da tarde uma surpresa vindo do céu. Um helicóptero se aproximava de nosso campo de futebol. Todo mundo correu para ver. Como eu estava lá perto, só pedi a Túlio que corresse em minha casa pra pegar a máquina.

Entrei num stress total pois Bentinho começou a correr na direção da aeronave. Eu gritava: volta! Volta! com medo de um acidente. Logo um militar saltou e correu em sua direção para contê-lo. Aí ele me tranquilizou: "Eu sei pilotar avião".  Ele é uma figura folclórica aqui.

O Sargento nos explicou o motivo do pouso e logo o levamos ao Mercado do Robertinho, para comunicar-se com o apoio em terra, que estava em Ubá. Robertinho ensinou ao  motorista, pelo telefone,  o caminho mais rápido, via São Sebastião da Vargem Alegre.  Eles não tinham a noção de onde ficava Belisário. Nem mesmo os que chegaram pelo céu.

Todo mundo curioso para saber do que se tratava.

O de chapéu é Bentinho, que jura que sabe pilotar avião.

Meus atletas não ficam de fora da foto.

Um militar ficou protegendo o helicóptero e os demais que chegaram vieram comigo para casa. Mirian havia preparado, em tempo recorde, um jantar para todos.

Vou acabar com a curiosidade de vocês. O comandante da aeronave, Major Queiroz, no centro da foto abaixo, nos explicou que a aeronave partiu de JF para Carangola. Eles pertencem à 4ª CORPAER- COMPANHIA DE RADIOPATRULHAMENTO AÉREO, um batalhão cujo lema é: "A ajuda que vem do céu", sendo uma força do Governo do Estado que atua como suporte aos policiais em terra, ao SAMU, ao atendimento de acidentes e catástrofes... A Companhia tem 6 helicópteros e um avião.

Também nos informou que todas as aeronaves do Estado de Minas têm o dever de dar suporte ao MG TRANSPLANTE,  órgão que centraliza as ações em Minas.

Nesse caso específico eles se deslocaram de JF para Carangola, para retirarem 2 córneas e 2 rins de uma pessoa falecida, do sexo feminino, e deveriam retornar imediatamente para JF, onde pacientes já seriam preparados para receberem os órgãos.

Ocorre que uma outra equipe se deslocou de avião de BH para retirar o fígado. Como não tinham pista para pouso em Carangola, desceram em Muriaé e assim o helicóptero precisou pegar a equipe em Muriaé, levá-los até Carangola e trazê-los de volta para Muriaé, já com os órgãos,  e retornaram a Carangola para pegar essa equipe, também com  as córneas e rins.

Um problema de logística nessa  nova operação: a aeronave não teria autonomia de voo para retornar até JF. Pediram à equipe de suporte em terra para se deslocar até Ubá, onde pretendiam abastecer no primeiro planejamento. 

No caminho, como trabalham com muita segurança, preferiu o Comandante Queiroz reduzir a viagem e avistando o campo de Belisário, aqui pousou.

Na foto abaixo, entre o Comandante, na extremidade o Sargento Ronald e na ponta o Tenente Franco. 

Esses são médicos, Dr. Márcio de Souza e o Dr. Gláucio de Souza. São cirurgiões, especializados em transplantes, e ambos são professores de medicina, um na UFJF e outra de uma faculdade particular lá em JF.

O sargento Max, que ficou guardando a aeronave, veio depois jantar.

Vamos voltar ao campo. A equipe de apoio já chegou e o abastecimento está acontecendo.

A boa vontade de "mudinho" em ajudar é impressionante. Sempre muito prestativo. Alás, eles levaram uma ótima impressão de nosso povo.

Estamos caminhando para o desfecho. O Comandante Queiroz já em seu posto.

Os médicos também ocupando os seus lugares. Os órgãos estão aí.

É hora de partir. A carga é muito preciosa e não há tempo a perder

Aeronave já fora do solo.

A caminhonete de apoio entrou pela rua lateral do campo.  Missão cumprida!

Mas também vão jantar.

À direita o Sub Tenente Marcelo e ao seu lado o Sargento Rogério. 

Sobre esse segundo, que aparece na foto abaixo, um fato muito interessante: em sua família são 6 irmãos militares, sendo 1 irmã tenente e uma outra coronel.  E não acaba ai. Ambas são casadas com coronéis. É um batalhão dentro da mesma família.

Eles são integrantes de uma estrutura militar que tem o objetivo exclusivo de dar suporte em terra às aeronaves. A equipe também é de JF e o comandante lá em BH, que fora informado da operação, ligou aqui pra casa para falar com o Sub Tenente Marcelo. Queria saber detalhes do tempo, visibilidade, se havia lua... É sempre arriscado um voo noturno de helicóptero, já que depende de visibilidade do solo.
De fato, houve muito stress por parte de todos nós que ficamos assistindo a decolagem do Helicóptero. Ele sobrevoou por cerca de dez minutos o campo. Parecia que iria voltar a pousar, por algum motivo, mas adquiriu altura e partiu. Ufa! Graças a Deus!

Um noite riquíssima para nós. Foi um privilégio para Mirian e eu participarmos um pouco dessa operação.Ficamos impressionados com  a paixão dessa pessoas por aquilo que fazem: salvar vidas.
Os médicos cancelam qualquer atendimento, inclusive remarcam cirurgias, para partirem em busca de órgãos, quando acionados pelo MG-TRANSPLANTE, em BH.
Fomos informados que a equipe de JF é a segunda de Minas no transplante de rins. Fazem até 5 intervenções de captação/transplante num mesmo dia, na Santa Casa.
A  fila dos transplantes é controlada pelo Ministério da Saúde e é algo extremamente sério.  Há normas legais para tudo, até para normatizar a amarração dos sacos.
O  transplante de fígado é mais complicado, já que corre contra o tempo o quadro clínico do paciente. O de rins pode prolongar um pouco  mais, através da hemodiálise, embora esta seja muito penosa para o paciente.
Já são 2 horas mas isso tudo nos excitou tanto que resolvi fazer a matéria imediatamente. Nada de sono.
Médicos e militares merecem todo o nosso respeito, diferentemente de muitas coisas em contrário, que temos visto ultimamente por ai.