MITOS DO ESCRAVIDÃO EM MINAS


Amanhã, dia 13 de maio, comemoramos 124 anos da Abolição da Escravatura. Tão pouco tempo e ainda há controvérsias sobre esse tema. A história é realmente algo complexo.
Em Salvador por várias vezes ouvia o ilustre historiador Cid Teixeira, que mostrava a sua indignação por inverdades que são passadas, principalmente aos turistas que visitam o Pelourinho, em relação a excessos de maldades que seriam aplicadas contra os negros, por parte dos seus “senhores.”
Estudioso de tema tão polêmico há mais de 20 anos, o professor de história da Universidade Federal de Minas Gerais Eduardo França Paiva também dá uma visão diferente em relação a várias informações da nossa história sobre o tema.
Segundo ele “nas novelas de tv, ambientadas nos tempos da escravidão, os negros têm destino certo: quando não ficam amarrados no tronco apanhando feito cachorro, estão presos aos grilhões nas senzalas ou preparando quitutes na cozinha da fazenda. Contrapondo a essa visão, vamos pegar alguns flashes de seu trabalho:
  • Muitos escravos desenvolveram autonomia e até ajuizaram ações contra os seus proprietários, quando se sentiam lesados. Muitas vezes levaram a melhor no tribunal, ao defender, por exemplo, que já haviam pago todas as parcelas de compra de sua liberdade.
  • Os senhores de escravos, ao contrário do que se aprende na escola e nos livros didáticos, nem sempre eram brancos. Em Minas, do início do século 18 a meados do 19, mais de 30% desses proprietários eram ex-escravos ou descendentes de escravos.
  • Em 1776, conforme as estimativas, havia na capitania de Minas, então a mais rica e populosa da colônia, com um comércio conectado com o mundo e efervescência social e cultural, cerca de 300 mil habitantes, sendo 130 mil forros (ex-escravos), 110 mil escravos e 60 mil brancos. Havia em Minas mais ex-escravos do que escravos, a maior parte mulheres.
  • Até a segunda metade do século 19, os escravos prezavam dois valores fundamentais: queriam ser livres e proprietários de escravos.  Os castigos físicos eram comuns nesses tempos de patriarcado, em que os pais batiam muito nos filhos.
  • No Brasil, o cenário de escravos amarrados ao tronco, sendo chicoteados, é fortemente panfletário, embora o castigo físico tenha existido em toda a colônia, eles também eram comuns nesses tempos de patriarcado, em que os pais batiam muito nos filhos.
  • Enquanto os escravos foram efetivamente agentes da história, a historiografia brasileira contemporânea continua repetindo discursos abolicionistas, o que significa exagerar no grau de violência praticado pelos senhores, diz o professor, convicto da necessidade de maior aprofundamento das pesquisas.
  • Nem todo escravo era negro. Mulatos, pardos e cabras (descendentes de negros e índios também eram escravos. “O equívoco maior é pensar que os cativos foram vítimas o tempo todo. O 13 de maio serve para discutir o assunto e corrigir uma série de distorções, muitas delas construídas pelos abolicionistas” 
Linha do tempo

Século 16 – Começa a escravidão no Brasil e os índios são os primeiros a trabalhar nesse sistema. Os negros africanos chegam à colônia na segunda metade do século
Século 18 – O sistema começa em Minas, sendo escravos os negros, mulatos, pardos e cabras (filhos de negros com índios).
1830 – Entram em vigor as primeiras leis proibindo o tráfico atlântico de escravos. Todo africano que chegasse ao território brasileiro deveria ser considerado livre
1850 – Em 4 de setembro, é aprovada a Lei Eusébio de Queirós, que põe fim ao tráfico negreiro.
1871 – Em 28 de setembro, é promulgada a Lei do Ventre Livre, que considerava livres todos os filhos de escravas nascidos a partir daquela data
1885 – Em 28 de setembro, é promulgada a Lei dos Sexagenários ou Lei Saraiva-Cotegipe, que garantia liberdade aos escravos com mais de 60 anos
1882 e 1885 – Em Minas, são criadas a Sociedade Abolicionista de Ouro Preto e a Beneficente Associação Marianense Redentora dos Cativos, que promoviam a emancipação dos escravos.
1888 – Em 13 de maio, a Princesa Isabel sanciona a Lei Áurea, que extingue a escravidão no Brasil.


Certamente que alguns estão entendendo que, com essa matéria, pretendo minimizar essa mancha da história brasileira, a escravidão, ainda mais que, por coincidência, ela vem logo a seguir de uma outra sobre cotas raciais. Mas não é isso: plagiando o Professor Renato Sigiliano em e-mail que me foi enviado recentemente, “a história caminha muito com estes contrapontos e é natural que eles existam”. E se não pude presenciar esse ruim da nossa história, tenho podido sim vivenciar tempos de muitos preconceitos contra os negros, e que ainda persistem. Acabar com isso, como canta Ivan Lins, “depende de nós”
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Comentários

  1. Os dois graves erros que o Brasil cometeu, foi arrebanhar os escravos vindos da África e a Princesa Izabel ter abolido a escravatura no dia 13 da Maio de 1888. O outro, erro foi tê-los deixados entregues a suas próprias
    Sortes, sendo preteridos pelos estrangeiros, que viriam ocupar os seus lugares, com todas as benesses que os eles não tinham. Teria sido mais justo, que eles ficassem nos seus próprios lugares onde estavam com as suas famílias, e não perambulando pelas cidades, como mendigos, depois de terem ajudado os fazendeiros a enriquecerem as custa dos seus trabalhos em troca de comida e abrigo em uma senzala. Esta, é uma mancha negra, que nunca se apagará no Brasil.

    Evart von Randow Belisário, MG.

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